Passo em frente do hotel, agora turismo de habitação, onde, numa das janelas, um casal de timbre nórdico se abraça, esperando provavelmente que o poente e a nostalgia que se reflectem nas rochas do lado de lá do mar - amálgamas amarelas, ocre, cinzentas - nunca sejam a cor da sua relação.
 
Depara-se-me, então, um panorama fascinante: um pequeno cais, certamente cenário de contrabandos, corsários e piratas, um fortim (em ruínas, mas fortim na mesma), implantado numa extremidade da ilha, onde os xistos assumiram uma posição quase vertical.
Para lá, a Ilha das Pombas, desabitada e nua, inocente e virginal. Que força, que energia, que fenómeno divino, terá pegado no Baleal e, com a fúria do colosso, o largado novamente no mar, ficando a inclinação oblíqua como prova da vontade inquebrantável e omnisciente dos deuses.
Paro por instantes junto à casa dos Jesuítas - edificada à beira de uma falésia que convida à reflexão sobre Deus e sobre os homens -, e aposto-me a percorrer o lado oeste da ilha. Escarpas. Ondas. Espuma. Turbilhão. Maresia. Gaivotas. Alguns veraneantes saboreiam os instantes do fim de tarde, deleitam-se em silêncio. Um cão ladra. Brevemente. Apenas como sinal de presença. E continuo o meu caminho, com pequenos desvios pelo emaranhado das ruelas, agora desertas e tranquilas, até chegar à outra extremidade do Baleal, no preciso momento em que o astro rei se funde com o mar, num beijo de amor lânguido, entorpecente, vibrante e sereno.
"Oxalá amanhã o tempo esteja bom" - penso para mim mesmo, enquanto reentro tranquilamente na casa que aluguei. Com o sabor e o cheiro do mar na memória, os tons de aguarela na retina, o toque do ar e o piar das gaivotas na alma. Emoções pungentes, sentimentos quentes. "Oxalá amanhã o tempo esteja bom".
 
Já agora, dê uma "saltada" ao nascer do sol...
Voltar ao menu principal